O psicanalisado

Era uma vez um cara que entrou num bar, sentou no balcão do dito bar e, depois de chamar o garçom, pediu um chope. O garçom encheu uma caneca e deu pro cara. Este agradeceu e bebeu de uma talagada só, até o meio da caneca. Depois, balançou o chope que ainda restava, balançou, balançou… o garçom olhando pra ele… balançou e pimba! atirou o resto na cara do garçom.
É claro que o garçom já ia sair no tapa, quando o cara, quase chorando, pediu muitas desculpas, falou que aquilo era um gesto incontornável que ele tinha e – por isso mesmo – carregava na consciência um complexo desgraçado.
E tanto falou e se desmanchou em desculpas, que o garçom aceitou a situação e aconselhou o cara a ir consultar um psicanalista, conselho que foi logo aceito. O cara se despediu, tornou a pedir desculpas e prometeu que, no dia seguinte, ia procurar um psicanalista.
Passaram-se alguns dias, até que o cara apareceu outra vez no bar e pediu um chope. O garçom trouxe, ele virou metada de uma talagada só e começou a balançar o chope na caneca. Foi balançando, balançando… o garçom tá olhando pra ele… Outra vez! balançou mais uma e pimba!… novo banho na cara do garçom. E este ainda estava enxugando os respingos, quando o cara pediu outro chope.
Mas o garçom se queimou e falou: – Escuta aqui, seu chato. Da outra vez você me de o banho, mas depois pediu desculpas. Desta vez você piorou. Nem desculpas pediu.
– Piorei nada. Melhorei – disse o cara: – Fui ao psicanalista e melhorei. Ele me tirou o complexo. Agora eu ando tão desinibido que faço a mesma coisa, mas sem o menor remorso.

Stanislaw Ponte Preta- Dois amigos e um chato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário